segunda-feira, janeiro 24, 2005

Quem tem medo do Acordeão?


No verão de 2003, a convite da Associação Musical Eborae Musica, preparei um concerto de acordeão para o ciclo "Música nos Claustros". Nessa altura pedi a um ex-aluno, Jorge Caeiro, para tocar comigo algumas peças para dois acordeões e interpretamos também a solo. Esse duo informal participou ainda no Ciclo "Musicando" em 2003 (o Jorge, um brilhante e promissor músico, deixou, entretanto, este instrumento para se dedicar ao piano frequentando, actualmente, o curso de música da Universidade de Évora na classe da Prof. Elisabeth Allen).
Dado o interesse que o trabalho apresentado suscitou voltei a participar no Musicando mas, desta feita, com um outro aluno, o Carlos Calado. Deste trabalho conjunto nasceu, recentemente, o DUO EOLIS. Embora ainda numa fase muito incipiente, a ACT resolveu dar mais visibilidade, com este ensemble, a uma das suas "batalhas": dignificar um instrumento pouco conhecido (!), ou mal amado por razões que estão profundamente enraízadas na imagem que o acordeão tem nos meios de difusão cultural.
Essa imagem está a mudar graças ao excelente trabalho de instrumentistas como a Celina Piedade, que toca com Rodrigo Leão e com as "Modas à margem do tempo", ou Pedro Santos, músico convidado para trabalhar com Dulce Pontes, ou ainda os "Danças Ocultas" que deram um novo fôlego ao acordeão diatónico. Este são alguns dos exemplos de músicos mais mediáticos porque estão envolvidos em projectos de grande qualidade que obtiveram algum sucesso.
No Jazz e na World Music, o instrumento é respeitado por quem se interessa seriamente. Com Richard Galliano ou Kepa Junkera o acordeão e a concertina já conquistaram o lugar que merecem ao lado do outros instrumentos.
No âmbito da música erudita contemporânea, o acordeão está a ser cada vez mais utilizado devido às suas capacidades tímbricas, expressivas e polifónicas. Neste campo, só um circulo muito restrito de pessoas do meio musical português tem conhecimento do trabalho desenvolvido na segunda metade do século passado.
É um dos objectivos do Duo Eolis dar a conhecer este repertório original ou adaptações de música do sec. XVIII e XIX para dois acordeões. Tomamos como modelo o duo Damian, formado por Pedro Santos e Paulo Jorge Ferreira. O seu labor de divulgação da música erudita para esta formação tem sido extraordinário. Apesar da resistência oferecida nalguns meios, continuam porque acreditam na formação dos públicos. Para Pedro Santos (como para mim) é necessário acabar com a ideia de que o instrumento só é adequado para repertório ligeiro, de consumo imediato e gosto muito duvidoso...
Este é o primeiro de uma série de posts sobre acordeão. A história da recepção do instrumento em Portugal está por fazer e se, porventura, algum dos nossos leitores estiver interessado neste assunto, escreva-me ou deixe um comentário.
Posted by Hello

1 comentário:

concertinartur disse...

Concertos de acordeonistas em Portugal nos próximos tempos:
Kimmo Pohjonen (Finlândia)
Renato Borghetti (Brasil)
Chango Spasiuk (Argentina)
Mais detalhes em:
http://dancasocultas.weblog.com.pt/